Postado em 25 de Maio de 2018 às 18h02

Metamorfose de amor: Conheça a história de Daniela May

Cleiton Fossá Chapecó – Quase na esquina da rua Osvaldo Cruz com a Manoel Ferraz de Campos Sales, em uma sala esverdeada, tom de abacate, estreita e comprida. Neste local, que a gaúcha, Daniela Cristina May, resolveu...

Chapecó – Quase na esquina da rua Osvaldo Cruz com a Manoel Ferraz de Campos Sales, em uma sala esverdeada, tom de abacate, estreita e comprida. Neste local, que a gaúcha, Daniela Cristina May, resolveu registrar a prova da superação. Ela contou a sua história, parcialmente ainda vive às consequências da última luz que viu antes de ser atingida.

Imprudência, esta é a palavra que resume aquele 22 de agosto de 2014. Sexta-feira, próximo a meia-noite, Daniela sabia que, no máximo, sete minutos era o tempo que ela precisava para chegar a casa do namorado, pois ele morava no bairro vizinho. Nem as baixas temperaturas e o vento, típicos do mês, impediram ela de sair de casa. Trajeto curto e viagem rápida. Ao menos era isso que imaginou, mas os planos foram interrompidos.

As câmeras registraram, ela estava na preferencial quando virou na esquina de casa. Na outra pista avistou um ônibus. Em seguida, uma caminhonete ultrapassou a lotação, pulou a lombada e atingiu Daniela. Pior que isso, o motorista do veículo descontrolado não prestou socorro. Ela ficou na rua, inconsciente e ensanguentada. Ele fugiu. “Ele fala que não se sentiu bem e foi embora, mas ninguém quis atender ele no hospital, porque ele não tinha nada”, salienta Daniela.

No sábado, 23 de agosto, Rozangela, mãe de Daniela, estava de aniversário. Entretanto, foi surpreendida com o acidente da filha, que foi diagnosticada com traumatismo craniano e também quebrou o fêmur. Daniela ficou em coma no hospital. “Parece que dormi num dia e acordei no outro”, concluiu. Porém, foram 19 dias sem ter noção que estava vulnerável a morte. O doutor foi direto ao assunto, disse para Rozangela que não havia mais o que fazer, a não ser aguardar a morte de sua filha. “A mãe não aceitou”, ressaltou Daniela.

Os pais de Daniela venderam roupas, móveis, tudo o que puderam para garantir o tratamento da filha. A vítima foi levada para um hospital particular. Foi então que descobriu que pegou uma bactéria enquanto ainda estava na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do hospital público. Ao relembrar o que passou durante sua recuperação, Daniela pausa a conversa por alguns segundos e frisa “Até hoje ‘ele’ nunca me ligou para pedir se está tudo bem”.

Os médicos do hospital particular asseguraram a vida de Daniela, mas devido a bactéria que contraiu em outro hospital, o doutor deixou claro que se o tratamento não resolvesse, ela teria uma perna amputada. Porém, resolveu. Fez seis cirurgias, o osso da perna não cresceu, precisou fazer um enxerto. Em seguida, um fixador externo foi colocado na perna de Daniela, para que assim pudesse alongar o fêmur. Noventa dias no hospital, a família já não tinha condições para pagar o tratamento, tampouco os medicamentos necessários. O hospital fez um acordo, pois a família já não tinha condições de pagar o tratamento. Daniela foi liberada, com a condição de que todas as noites voltasse ao hospital para aplicar injeção, saiu com cerca de 40 quilos, um fixador de 5 quilos e a cadeira de rodas.

Um grupo de motoqueiros organizou um jantar beneficente e também reformou a moto do acidente para que pudessem rifar. Outros jantares foram realizados e o que foi arrecadado ajudou a família a diminuir as despesas.

Os medicamentos… “ah”, os medicamentos! Ela viveu o que muitos chapecoenses ainda vivem. O não, o descaso. “Sempre alguém ia buscar os remédios, mas sempre nos diziam que estava em falta e não tinha o que fazer. Precisou uma emissora realizar uma reportagem para que de um dia para o outro o medicamento já estivesse disponível pelo SUS”, ressaltou Daniela.

Pousar em uma flor, colorir e voar. A transformação de uma lagarta encanta os que podem prestigiar. A vida da Daniela passou por uma transformação, não da maneira que planejou. Três invernos, até na estação mais gelada ela precisou mudar os seus hábitos. Usou saias até descobrir uma calça toda listradinha, a única que ela pôde usar com todos aqueles “ferros” que envolviam a sua perna.

A pele poderia se render a falta do calor, mas o coração não. O órgão, que bate entre 60 a 100 vezes por minuto, estava em chamas. Não tem a frieza de quem a deixou caída no asfalto. “Eu prefiro a minha vida de agora, não a que eu tinha antes do acidente. Eu aprendi a valorizar, a agradecer”, ressaltou Daniela. Transformou-se. Voou, mais alto que qualquer borboleta. Coloriu a vida de todos ao seu redor, que passaram por dias cinzentos. Coloriu também a garagem de sua casa. Calças, vestidos, saias, blusinhas, jaquetas… Todas as roupas que não pôde usar, ela vendeu. E assim se tornou empreendedora.

A labirintite não permite que volte a dirigir, ou que ao menos possa pegar um ônibus. Correu, pulou todos os obstáculos, até mesmo a barreira para achar trabalho. Sem ajuda, Daniela não pode andar de ônibus. Então, devido todas as dificuldades, o brechó saiu do cantinho da casa, ganhou outro espaço. Ela é empresária, sua própria gerente e vendedora. Além da labirintite, ainda ressalta a preocupação devido os problemas causados pelo acidente “não volto a ser como eu era”.

Olhar fixo, toda vez que alguém tentava conversar com ela, Daniela olhava para a boca da visita. Uma função do cérebro foi prejudicada, ela ouve, mas para entender precisa olhar os movimentos da boca. De fato, ela não voltará a ser como era antes, por dois motivos: imprudência e sensibilidade.

Imprudência de quem não sabe os riscos que pode causar para o outro quando assume o volante. Sensibilidade dela, Daniela. Com chimarrão na mão e um aquecedor antigo ao lado da escrivaninha, ela recebe os clientes. Na sala esverdeada, tom de abacate, estreita e comprida, ela trabalha, ela transforma todos os acontecimentos ruins em dedicação e amor.

Ela superou, e ainda frisa “Ninguém está livre de um acidente, então pare e ajude. Cuide, cuide a velocidade, a bebida, mas principalmente a vida do outro. Precisamos cuidar do outro, se cuidarmos a vida do outro, por consequência cuidaremos a nossa também”, concluiu Daniela. Na prateleira do “Brechó da Dani” o cuidado de quem quer conhecer as histórias, um recado que traduz um pouco dos seus sentimentos, um recado que diz respeito a sua vida, uma frase curta, mas que transborda amor: “Entre como cliente, saia como amigo”. Cada adeus seguido de um sorriso, confirma: o retorno não é passível de dúvida.

 

Alessandra Favretto, Assessoria de Comunicação Cleiton Fossá

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